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04/10/2018

Detectado precocemente, o câncer de mama tem cerca de 98% de possibilidade de cura

     Ela chegou trazendo flores e cumprimentando a todos. Logo seria atendida pelo Doutor Alfredo Carlos Barros, que a acompanhou desde que recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Mônica Mussallam Higashi, 54, descobriu o câncer em janeiro, num exame de rotina e, na segunda-feira, 17/09/2018, durante a entrevista à reportagem, emocionou-se ao falar como foi um processo difícil, mas “cheio de descobertas e de encontro consigo mesma e com os outros”.

     Diferentemente do que previam os médicos, Mônica, mesmo com a quimioterapia, não teve queda de cabelo e passou por todo o tratamento mantendo suas atividades profissionais como atriz e artista plástica, mãe de dois filhos. “A coisa mais importante, durante todo o processo, foi a fé. Posso dizer que foi uma época difícil, mas a melhor da minha vida. Sinto muita gratidão”, afirmou Mônica, que salientou o fato de as pessoas verem o câncer como um diagnóstico de morte, quando, na verdade, hoje há muitas probabilidades de cura, sendo que manter-se numa postura de positividade é essencial para passar bem pelo tratamento.




     Para esclarecer dúvidas sobre o câncer de mama, suas diferentes causas e o tratamento praticado hoje, Doutor Alfredo Carlos Barros, mastologista, professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e ex -presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, concedeu uma entrevista ao O SÃO PAULO, que será reproduzida aqui em forma de tópicos.

 

1-Como se forma o câncer de mama?

     De 5% a 10% das pessoas que têm câncer de mama possuem uma base hereditária, ou seja, nasceram em uma família com mães, irmãs ou tias que tiveram ou têm câncer de mama. A maioria, porém, de 90% a 95%, desenvolve o chamado câncer de mama esporádico. É mais fácil explicar o câncer de mama naquelas famílias em que se nasce com um gene defeituoso ou mutado.

     Mas, e as que não nascem com essa predisposição genética? Pode-se falar em alguns fatores como meio ambiente, hábitos reprodutivos e hormonais das mulheres e o fator nutrição.

 

O MEIO AMBIENTE

     No meio ambiente, encontram-se muitas substâncias químicas potencialmente nocivas e lesivas ao DNA das células mamárias. Os hidrocarbonetos aromáticos, por exemplo, são substâncias químicas orgânicas originárias da poluição, da queima de diesel, e de lixos como pilhas e baterias, além de plástico e detergentes, que, ao cair no vaso sanitário ou na pia de louças, não são degradáveis e vão para os rios. Até mesmo o gado e os frangos que engordam com anabolizantes, ao serem consumidos, são fatores que aumentam o risco de câncer. Isso pode ser verificado porque em regiões com menor incidência desses fatores há menos casos de câncer. Enquanto no Acre uma em cada 20 mulheres tem câncer de mama, em Porto Alegre (RS) ou em Goiânia (GO), os casos chegam a uma em cada oito mulheres.

 

HÁBITOS REPRODUTIVOS E HORMONAIS

     Dentro da questão dos fatores reprodutivos, está o fato de as famílias hoje terem menos filhos e a mulher engravidar mais tardiamente. Uma mulher que engravida antes dos 22 anos dificilmente terá câncer de mama, porque a placenta produz alguns hormônios que protegem a estrutura das células mamárias. Mas qual a mulher hoje que engravida com essa idade ou que amamenta bastante? Ainda assim, quanto mais tempo amamentar, melhor. Uma mulher dos séculos passados, que tinha de sete a oito filhos, passava muito tempo da sua vida como gestante ou lactante e, assim, menstruava cerca de 60 a 70 vezes em toda a vida. Uma mulher que tem apenas um filho e amamenta três meses, menstrua cerca de 300 a 350 vezes.

     O fato de menstruar não é prejudicial em si, mas os ovários no ciclo menstrual são o principal produtor de estrogênio. A mulher que não menstrua devido a algum medicamento específico, ou devido a administração de outros hormônios, não necessariamente está protegendo a mama. Não há estudos aprofundados a respeito.

     Além disso, há a reposição hormonal quando a mulher chega à menopausa. Ela passa a produzir menos estrogênio e, de uma maneira artificial se introduz esses hormônios, que trazem uma série de benefícios, como aumento da massa óssea, aumento do ânimo emocional, disposição para atividades físicas, aumento da libido, é bom para a pele e para o cabelo, porém aumentam muito o risco de câncer de mama. Na população em geral, naquelas mulheres que não têm predisposição genética e têm sintomas devido à questão hormonal, pode-se usar a menor dose e pelo menor tempo possível dessa reposição a fim de aliviar os sintomas, associando a medicação à diminuição do uso de álcool e de fumo e a uma rotina de atividades físicas e alimentação saudável, sendo que isso deve ser feito com orientação médica.

 

NUTRIÇÃO

     No que se refere à nutrição, é importante comer muitas frutas e verduras, carne vermelha com moderação e pouquíssima gordura e carboidrato. A alimentação hoje está cheia de carboidrato, açúcar e farináceos, e isso faz com que as pessoas liberem hormônios como a insulina ou o fator insulinoide tipo 1, que ajudam a multiplicar células mamárias. Além disso, quanto mais obesidade a mulher tiver, mais ela produz estrogênio no tecido gorduroso, sobretudo após a menopausa. O estrogênio não é um causador de lesão, mas estimula uma célula geneticamente modificada, que tende a multiplicar-se mais rápido.

 

2-Como a mulher pode reduzir os riscos de câncer?

     Existem medicamentos e substâncias que não deixam o corpo produzir hormônios ou competem com os hormônios na ligação com as células receptoras na mama. É um bloqueador hormonal por competição. A administração desses medicamentos, em pessoas com predisposição genética para o câncer, chega a reduzir de 60% a 70% o risco da doença. Não são medicamentos que toda mulher deve tomar, porque têm efeitos colaterais como interferência na reprodução, ondas de calor, tendência à trombose e catarata ocular. Mas, quando se analisam riscos e benefícios, para as pessoas que já estão sujeitas a risco muito elevado, com prejuízo emocional, inclusive com repercussões na sexualidade, que perderam a libido ou que estão deprimidas, deve-se avaliar e, se for o caso, fazer uso dos medicamentos.

     A cirurgia preventiva, por sua vez, é outro desses recursos. Há uma cirurgia em que se retira toda a glândula mamária por dentro, preservando-se a pele, aréola e mamilo, e se faz o preenchimento com silicone. Essa cirurgia reduz o risco de a mulher ter câncer de mama em 95%. Não é 100%, pois fica uma diminuta camada de tecido gorduroso embaixo da pele na qual o câncer pode se desenvolver. É importante salientar que essa cirurgia não tem nenhuma função estética, até porque a consistência da mama fica dura e são comuns assimetrias, além de os mamilos se tornarem insensíveis. É, assim, uma excelente cirurgia para quem precisa, mas uma péssima cirurgia para quem não precisa. Para quem tem 70% de chance de ter câncer de mama, que teve casos de óbito pela neoplasia na família, é uma solução para diminuir o risco e ter mais qualidade de vida.

 

3-Como descobrir o câncer o mais rápido possível?

     Para descobrir cedo a doença, o melhor exame que existe é a mamografia, que deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos de idade. A mamografia consegue detectar tumores a partir de um milímetro, ainda não palpáveis. Com o diagnóstico pela mamografia, há de 97% a 98% de chances de cura, quase sempre sem quimioterapia. Mas até que idade a mulher deve fazer a mamografia? Não existe um limite de idade para parar. Enquanto a pessoa tiver um bom desempenho mental e de locomoção, de qualidade de vida, ela deve fazer a mamografia anualmente. Com o autoexame, encontra-se tumores a partir de 1cm. O autoexame ajuda a pessoa a prestar atenção ao próprio corpo e ter outros cuidados consigo, mas a mamografia é o melhor exame para prevenir casos de câncer.

 

ACESSO

     Para pessoas que moram em cidades pequenas ou com pouco poder aquisitivo, o acesso à mamografia pode ser mais difícil. Tais dificuldades não se devem só à falta de aparelhos, preço elevado ou dificuldade para marcar o exame, mas também ao fato de as mulheres não conseguirem tempo para si mesmas. A mulher tem de se afastar de suas atividades, às vezes não tem com quem deixar os filhos ou trabalha fora e não consegue folga no trabalho. O ultrassom, por sua vez, é o exame para mulheres mais jovens, com menos de 40 anos, e deve ser feito anualmente também.

 

4-Tratamentos modernos

  • CIRURGIA -  A cirurgia em casos de câncer de mama é feita pelo cirurgião mastologista e pelo cirurgião plástico, funções que, em alguns casos, estão concentradas na mesma pessoa. São diferentes tipos de cirurgia, e, hoje, tem-se optado pelas cirurgias menores, as ressecções segmentares, que retiram apenas parte da mama. A adenectomia, por sua vez, é aquela cirurgia em que se retira toda a mama, mas se mantêm a aréola e o mamilo. Já a mastectomia é aquela em que toda a mama é retirada, inclusive o tecido interno à aréola, e o mamilo. A escolha do tipo de cirurgia depende dos fatores individuais e do tipo de câncer, bem como dos fatores genéticos.
  • RADIOTERAPIA - A radioterapia deve acompanhar o tratamento em todos os casos e se trata de um procedimento de radiação aplicado na região do tumor.
  • QUIMIOTERAPIA - A quimioterapia também é um tratamento que vai depender das características de cada tumor. Hoje existem muitos recursos que ajudam, por exemplo, a diminuir a queda de cabelo, um dos efeitos colaterais mais visíveis do tratamento. É uma associação de medicamentos com ação sistêmica que atua na destruição das células, e hoje está cada vez menos tóxica, com diminuição de todos os efeitos colaterais.
  • HORMONIOTERAPIA - São os mesmos medicamentos usados para prevenir o câncer e não deixam o estrogênio atingir a célula receptora ou impedem a formação do hormônio.
  • TERAPIA BIOLÓGICA - São anticorpos que destroem os receptores dentro das células. Trata-se da grande novidade no tratamento do câncer. Existem outros recursos que têm sido pesquisados e descobertos. Os convênios costumam pagar esse tipo de tratamento, o Sistema Único de Saúde (SUS) nem sempre e, por isso, nem todas as pessoas têm acesso à terapia biológica.
  • TERAPIA INTEGRATIVA - São terapias que melhoram o bem-estar da pessoa, como atividades físicas, danças, acupuntura, florais, artes marciais, ioga. Cada pessoa encontra um caminho que auxilia o tratamento e eles são muito recomendáveis como terapia complementar.


     Após o tratamento, a mulher tem de continuar a realizar um acompanhamento, seja com o mastologista, seja com o ginecologista. Isso não significa que ela terá novamente o câncer, mas é prudente realizar exames com certa frequência.

 

CÂNCER DE MAMA EM HOMENS

No Brasil, são cerca de 500 casos por ano, a maioria descobertos pela palpação. Não há um crescimento significativo de casos e eles são, na maioria, hereditários.

 

Fonte: osaopaulo.org.br/noticias