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23/10/2012
Unidos contra o câncer de mama
Depois de um dia de trabalho, hora de tomar aquele banho relaxante. Enquanto a água cai, a mão da mulher desliza sobre o seio. Surpresa, ela percebe um pequeno caroço na altura da axila. O nódulo parece ter o tamanho de um grão de feijão. “O que é isso?” A hipótese a deixa tão assustada que ela evita tocar na mama novamente. Pensa na família, nos amigos, naquela viagem que queria fazer para o exterior e do seu primeiro amor. “É câncer? Vou morrer? Terei de tirar meu seio? Por que isso está acontecendo comigo?”, a angústia toma conta.
O mês de outubro é marcado, em todo o mundo, por um reforço nas ações de combate ao câncer, principalmente os que mais afetam as mulheres, como os do colo do útero e o de mama. “É o momento para lembrar a importância do diagnóstico precoce, como também alertar sobre os fatores de riscos que podem desencadear o câncer de mama. Mudança de hábitos de vida é fundamental para prevenirmos esta doença que ainda vitima milhares de mulheres diariamente”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional Goiás, Juarez Antônio de Sousa.
A campanha Outubro Rosa chegou ao Brasil em 2008, por iniciativa da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), baseada em outro movimento surgido um ano antes, na Califórnia, Estados Unidos, igualmente empenhado em conscientizar as mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce.
No Brasil, estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que a doença será responsável por 52.680 novos casos até o fim do ano. A neoplasia fica atrás somente do câncer de pele em número de incidências e é o que mais acomete mulheres em países desenvolvidos e em desenvolvimento. “A incidência vem aumentando nos últimos anos e, entre as razões, está o fato de as mulheres engravidarem mais tarde e amamentarem menos. Além disso, tendem a ter maior índice de obesidade, ingerem mais bebida alcoólica e consomem mais alimentos industrializados”, aponta o mastologista.
Sinais
O principal sinal de câncer é o nódulo, acompa nhado ou não de dor mamária. O autoexame, tão propagado nos anos 1990 como primordial na detecção da doença, não tem se mostrado eficaz na descoberta precoce. “Ele continua sendo recomendado, mas preferimos a mamografia, que costuma ser mais precisa. E as mulheres precisam repensar seus hábitos, pois a saúde, em muitos casos, tem sempre ficado em segundo plano por causa das tarefas do dia a dia”, alerta Juarez.
A prevenção, ferramenta que pode ajudar a reverter esses índices, é dividida em dois tipos. “Na prevenção primária, com a qual reduzimos o risco de a mulher desenvolver a doença, aconselhamos uma alimentação balanceada, evitando excessos e sobrepeso, assim como o tabagismo e menor ingestão de bebida alcoólica. Além disso, a atividade física regular quatro vezes por semana é essencial. Já a prevenção secundária, ou seja, quando o câncer já existe e é detectado na fase inicial, é feita por meio do exame mamografia”, conclui.
Cura
Existe um consenso entre os especialistas de que a mulher não morre de câncer de mama, mas com câncer de mama. A causa da morte é a metástase, que leva a doença aos órgãos vitais, como o fígado, o pulmão, a coluna e o cérebro. Como os seios são uma região muito vascularizada, as células malignas podem seguir pelos vasos sanguíneos ou linfáticos para outras partes do corpo. Se o tumor for identificado precocemente, as chances de essas células malignas se espalharem diminui. E pode-se falar até em cura, quando o tratamento consegue afastar de vez o risco de recidiva (a volta da doença) ou de metástase. Com a precisão cada vez maior das técnicas de diagnóstico e procedimentos mais efetivos e menos mutilantes, já é possível, sim, vencer o câncer no seio.
Além do autoexame que ajuda a prevenir e a identificar mais cedo qualquer sinal que possa levar a descobrir algum nódulo existente nos seios, a tecnologia aliada à medicina criou maneiras mais eficazes de identificar o câncer de mama. Um dos grandes avanços da detecção precoce da doença é a mamografia tomográfica – também chamada de tomossíntese ou mamografia 3D. Trata-se de um exame muito semelhante à mamografia convencional, realizado no mesmo tipo de mamógrafo, fazendo com que a mama permaneça comprimida por mais alguns segundos e fornecendo então as imagens tomográficas.
Estudos realizados pelo CDB Premium, em São Paulo, primeira clínica brasileira a investir na tecnologia, revelam aumento de 12% na detecção da doença em relação à mamografia digital. Na opinião de Aron Belfer, médico radiologista especialista no diagnóstico de câncer de mama e coordenador dos estudos, a grande vantagem dessa técnica é permitir enxergar o câncer numa fase muito precoce e em mamas densas e heterogêneas, que são difíceis para a mamografia convencional.
Trata-se de um método que traz aumento de sensibilidade (maior detecção de câncer) e especificidade (menos falso-positivos). Como consequência, permite distinguir entre as imagens verdadeiramente suspeitas e aquelas provocadas apenas por superposição de estruturas normais, diminuindo o número de biópsias. “Nos casos em que as biópsias são evitadas, as pacientes são poupadas de procedimentos complexos. Além de aumentar a detecção do câncer da mama, a tomossíntese possibilita a detecção de tumores menores, fato que tem implicação direta na sobrevida das pacientes e na sua qualidade de vida”, explica o médico. Vale ressaltar que tumores menores permitem o uso de cirurgias menos mutilantes e um menor custo no tratamento.
Como existem vários tipos de câncer de mama, ele pode se apresentar de diferentes formas. Alguns se apresentam como calcificação, outros como nódulos, outros infiltram o tecido normal de uma forma tão sorrateira que não podem ser distinguidos nem pela mamografia, nem por outros métodos, como, por exemplo, o ultrassom. Alguns nódulos malignos têm as mesmas características dos benignos nos exames de imagem. A velocidade de crescimento dos tumores também é outro fator. Os de crescimento rápido aparecem no intervalo entre as mamografias anuais. “É importante ressaltar que os métodos de imagem têm o papel de ‘encontrar’ a lesão, muitas vezes podendo sugerir o seu caráter maligno ou benigno. Mas apenas a biópsia pode ‘diagnosticar’ o câncer”, alerta Aron Belfer.