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28/03/2011

Mito na Imprensa: "Câncer de mama aumenta em jovens"

Nos últimos seis anos diversas reportagens publicadas na imprensa escrita motivaram pânico totalmente destituído de qualquer análise científica. Foram reportagens baseadas em estatística primária, com inúmeros erros de interpretação. Creio que há um sensacionalismo que a imprensa tenta colocar no conteúdo que devemos reverter.

Recentemente, em setembro de 2010, foi publicado numa conceituada revista científica internacional, a “Breast Cancer Research and Treatment” um estensa e rigorosa revisão sistemática sobre o tema “ Epidemiologia do Câncer de Mama em Jovens”. O trabalho reforçou o que de mais sério foi publicado sobre o tema nos últimos 10 anos. Não tem havido um aumento na ocorrência de câncer de mama em mulheres jovens, ou seja, aquelas com menos de 45 anos. Tem havido um aumento no número total dos casos de câncer, predominando nas mulheres pós-menopausadas e idosas. A proporção de mulheres jovens com câncer de mama tem se mantido estável na maioria dos países, com sinais de queda nos Estados Unidos e Reino Unido.

O trabalho novamente relaciona os fatores conhecidos que aumentam o risco para câncer de mama – obesidade, depressão, sedentarismo, ingestão excessiva de alccol, nuliparidade, gestação tardia e terapia de reposição hormonal combinada na menopausa. Todos estes fatores, entretanto, se relacionam a elevação no risco para aparecimento de câncer em pacientes com mais de 45 anos e idosas. As pacientes jovens que desenvovem câncer de mama têm como principais fatores de risco as mutações genéticas.

O risco do câncer de mama decorrer de mutação genética fica em torno de 10%. O câncer de mama acomete pacientes jovens, proporcionalmente a todos os casos diagnosticados nas diversas faixas etárias, em 15% a 18% dos casos. O site governamental britânico (www.breastcancercare.org.uk), destinado às informações do câncer de mama, assinala que a divulgação do aumento da incidência do câncer de mama na mulher jovem é um mito, tais quais as afirmações acerca do aumento da incidência associada ao uso de desodorante, trauma da mama, mastalgia e stress.

Em 2006, a “American Cance Society” publicou no periódico “Cancer Journal for Clinicians” os dados epidemiológicos da incidência e mortalidade por câncer nos Estados Unidos nos últimos 10 anos, registrando uma diminuição proporcional no número de pacientes jovens com câncer de mama. Isso teoricamente decorreria da prevalência de obesidade nestas jovens, que serviriam para protegê-las do câncer de mama, mas a condenariam na menopausa, quando este tecido adiposo acumulado na juventude seria responsável por bombardear as mamas de estrógenos, elevando as chances de desenvolvimento do câncer de mama relacionado aos esteróides sexuais.

No Brasil, o INCA (Instituto Nacional do Câncer), responsável pela estatística de incidência e mortalidade por câncer, não tem informação disponível sobre a faixa etária que a população é acometida pelos diversos tipos de câncer, não sendo possível definir uma relação de causa-efeito.

Em 05 de junho de 2005, a Folha de São Paulo publicou reportagem com o título “Câncer de mama cresce antes dos 35 anos”. A informação havia sido fornecida pelo Hospital do Câncer de São Paulo, antiga Fundação Antonio Prudente. Os dados se limitaram ao levantamento de casos daquele hospital, de atendimento privado e público, que faz parte do projeto GENOMA, que compila e recruta mulheres com mutação genética. Ou seja, a probabilidade de terem mais pacientes jovens com câncer de mama que a população geral obviamente tem que ser maior, pela simples razão de atenderem mais pacientes com mutação genética e câncer de mama. Ou seja, serviu para disseminar o pânico às mulheres com menos de 35 anos, como se o dado obtido fosse baseado em análise do Brasil, da região Sudeste, do Estado de São Paulo, ou da cidade de São Paulo. O dado foi obtido de um único hospital que tem por característica atender mulheres com mutação genética – jovens.

Na mesma edição deste jornal, o chefe da divisão de atenção oncológica do INCA, Dr. Marco Polo, afirma não ser possível fazer tal afirmação com base na séria histórica do órgão.

Um ano depois, em 05 de agosto de 2006, a Folha de São Paulo volta a publicar os dados do Hospital do Câncer da Fundação Antonio Prudente, desta vez afirmando que o número de casos de câncer em pacientes com menos de 35 anos quintuplicou nos cinco anos anteriores. Os autores da reportagem aproveitaram o pânico da população frente ao falecimento vereadora santista e filha não reconhecida pelo jogador Pelé, acometida por câncer de mama com 40 anos. Novamente um dado destituído de análise estatística populacional, apelativo e inoportuno.

Estamos diante de um jogo de informações inapropriadas, que confundem a população, gerando pânico e preocupação.

Em 03 de janeiro de 2011 o Estadão publica um artigo afirmando que o câncer de mama tem se elevado em jovens. A informação correta é que o número de casos registrados de câncer de mama aumentou na última década, determinando um aumento absoluto em números representativos em todas as faixas etárias. Na referida reportagem, o Dr. Ruffo Freitas Jr. comenta artigo de sua autoria publicado na revista “São Paulo Medical Journal” em 2010, acerca da incidência de câncer de mama em jovens no período de 1988 a 2003, com base no registro de 3.310 casos. O Ruffo afirma que houve um aumento no número de casos de câncer de mama em todas as faixas etárias, incluíndo as pacientes jovens, mas sem diferença proporcional em relação às pacientes com mais de 45 anos e idosas.

Fiz um levantamento baseado em dados dos Registros Hospitalares da Fundação Oncocentro da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo no período de 2000 a 2008 (gráfico e tabelas disponíveis no anexo) Este registro inclui dados enviados por 76 hospitais do Estado de São Paulo, incluíndo o Hospital do Câncer de São Paulo (Fundação Antonio Prudente), IBCC, Hospital das Clínicas de São Paulo e Ribeirão Preto, CAISM da Unicamp, Hospital de Barretos, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) dentre outros. No período foram analisadas 48.187 pacientes, talvez a maior casuística nacional.

Os dados baseados no registro hospitalar de câncer de mama do Estado de São Paulo, centralizados e divulgados pela Fundação Oncocentro demonstram que nos últimos 10 anos não houve aumento na proporção do número de casos de câncer na pacientes jovens (10 – 44 anos) em relação ao registro total de casos registrados. Tem havido uma tendência de queda no registro de casos de casos nas pacientes jovens (10 – 44 anos), como também tem sido registrado em países como Estados Unidos, Reino Unido e Canada. Exceto a Austrália, Portugal e Espanha que registraram um aumento nesta faixa etária, e nos demais países cuja taxa se manteve estável, sem queda ou elevação.

Em 2000 e 2001, a proporção de casos registrados no Estado de São Paulo nas pacientes jovens, em relação à totalidade dos casos foi de 23.9% e 22.8%, respectivamente, enquanto que nos anos de 2008 e 2009 foram 19.8% e 18.9%, respectivamente.

Entre os anos de 2000 e 2008 houve um aumento de 27.5% dos casos registrados de câncer de mama. Na faixa etária de 10 a 44 anos, pacientes jovens, o aumento no período foi de 11.6%, inferior ao aumento observado na faixa etária das pacientes no período da menopausa, entre 45 a 59 anos, cujo incremento no número de casos de câncer de mama foi de 41.7%, e das pacientes idosas, com idade entre 60 e mais de 75 anos, com elevação de 42.0% dos casos de câncer de mama.

Dr. Marcos Desidério Ricci
Mastologia - Oncologia Genital - Laparoscopia
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Dr Carlos Alberto Ruiz
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia